Como Fotografar o Pôr do Sol: O Que Realmente Faz a Diferença
Fotografar o pôr do sol pode parecer simples — afinal, a luz está bonita, o céu ganha cor, basta apontar a câmara e disparar, certo? Errado. Ou melhor: certo, se te contentares com uma foto banal. Mas se quiseres imagens que tenham impacto, profundidade, e que contem mesmo uma história… há muito mais que entra em jogo.
Aprendi que o mais importante numa boa fotografia de pôr do sol não é necessariamente o pôr do sol. A luz é só o ponto de partida. O resto és tu que constróis. E é sobre isso que te quero falar neste post.
"Só um pôr do sol" não chega
Esta é talvez a ideia mais importante. Uma imagem só do céu colorido pode ser bonita, sim. Mas não passa disso: bonita. Agora, quando consegues criar uma cena com um pôr do sol, com um primeiro plano forte, com linhas que guiam o olhar, com profundidade… aí sim, tens uma fotografia que conta uma história.
Inclui algo que ancore a imagem — rochas, silhuetas, tanques de sal, árvores, reflexos, pessoas… qualquer elemento que transforme o céu num cenário e não no tema principal isolado.
Planeamento e paciência: não dá para improvisar
Chega cedo. Muito antes do pôr do sol. O tempo que passas a explorar o local, a perceber a luz, a testar ângulos, a escolher enquadramentos… faz toda a diferença. Às vezes perco mais tempo de máquina ao ombro do que de olho no visor. E ainda bem.
A luz ao fim do dia muda num instante — e muda várias vezes. Uma pequena distracção e perdes o momento. Já me aconteceu olhar para o lado e, quando voltei a focar na composição, a luz que queria já se tinha ido. A luz não espera. Tu sim.
Composição: o teu melhor aliado
O pôr do sol oferece luz incrível, mas se a composição for fraca, a imagem também será. Eis alguns pontos que considero essenciais:
- Simetria: Quando bem feita, é poderosa — mas se estiver ligeiramente torta, fica logo desconfortável de ver. Locais com padrões repetitivos (como tanques de sal ou reflexos em água) são ideais, mas exige precisão. A mínima inclinação ou descentramento arruína a simetria.
- Linhas de orientação: Usa os elementos naturais ou arquitetónicos para guiar o olhar: caminhos, muros, margens, sombras, passadiços. Posiciona o canto de um tanque de sal, por exemplo, bem no centro inferior da imagem, e deixa as linhas levarem o espectador até ao fundo.
- Profundidade: Uma imagem plana não envolve. Inclui algo próximo da lente — e usa uma grande angular para dar mais presença ao primeiro plano. Inclinar ligeiramente a câmara para baixo pode reforçar a força dessa base.
- “Menos é mais”: É tentador querer mostrar tudo. Mas se há demasiada coisa na imagem, perde-se o foco. Não tenhas medo de simplificar. Uma composição mais limpa muitas vezes transmite mais impacto.
- Ângulo e perspectiva: Muda a tua posição. Um passo para o lado, um agachamento, ou virar a câmara na vertical pode ser a diferença entre uma imagem fraca e uma composição forte.
Análise Visual de Uma das Minhas Fotografias de Pôr do Sol
Para ilustrar melhor algumas das ideias que partilhei acima, deixo aqui uma das minhas imagens de pôr do sol acompanhada de algumas notas visuais.
- Composição com linhas de orientação: O curso da ria formosa (Quinta do Lago, Algarve) guia naturalmente o olhar do primeiro plano até ao sol no horizonte. É uma linha visual forte que dá profundidade e estrutura à imagem.

- Formato vertical bem aproveitado: A escolha da orientação vertical dá protagonismo ao céu, sem perder o equilíbrio com o solo e a água.

- Luz no momento certo: O sol está exatamente no ponto de transição, a tocar a linha do horizonte, o que traz uma luz suave e agradável. Nem demasiado alta, nem já ausente.

- Textura no primeiro plano: A superfície da água, com as suas pequenas ondulações, dá base visual à imagem e evita que o olhar se perca num vazio. Há detalhe e movimento, mesmo na zona mais escura.

- Céu expressivo e equilibrado: As nuvens têm forma, direção e textura — criam interesse sem distrair. As cores estão equilibradas, quentes sem exagero, e há uma boa transição entre tons frios e quentes.

Golden Hour: o melhor momento (e não é o final)
É natural pensar que o momento mágico é quando o sol desaparece no horizonte. Mas, na prática, o que acontece antes costuma ser mais interessante.
A chamada Golden Hour, aquela hora antes do sol se pôr, oferece luz quente, suave, direcional. Dá sombras longas, texturas e contrastes bonitos. É também o momento certo para tentar um starburst (aquele efeito de estrela com raios) se conseguires posicionar o sol em ponto certo e com abertura pequena.
Pessoalmente, prefiro muito mais fotografar durante a Golden Hour do que no próprio pôr do sol. Quando o sol toca o horizonte, as condições podem já estar a complicar-se — e podes acabar com uma imagem demasiado escura ou com o céu a “rebentar”.
Configurações técnicas: simples mas eficazes
Se estás a fotografar ao pôr do sol, há algumas escolhas técnicas que te vão facilitar muito a vida:
- Lente grande angular — mas não precisa de ser super wide. Algo como 16mm dá-te flexibilidade sem exageros.
- Abertura pequena (f/16 ou f/18) — para garantir profundidade de campo, nitidez do primeiro plano até ao fundo.
- Focagem no plano intermédio — como no segundo tanque de sal, por exemplo. Assim maximizas a nitidez em toda a imagem.
- Velocidade do obturador — ajusta conforme a luz, mas garante que a câmara está estável (tripé ajuda muito).
- Histograma SEMPRE: Não confies só no ecrã. O histograma mostra-te se estás a subexpor (tudo à esquerda) ou se há clipping nos brancos. Pequenos ajustes — tipo 2/3 de stop — podem salvar uma imagem.
“Os olhos mentem. Os histogramas não.”
Flexibilidade, tentativa e erro: parte do processo
A luz é imprevisível. Já perdi luz perfeita por uma nuvem inesperada ou um nevoeiro súbito. Faz parte. Mas, mesmo quando o céu não colabora, ainda há imagens para fazer.
Explora o local. Ordenha o cenário. Fotografa para norte, para este, para sul — não fiques preso a uma direção. Testa composições verticais. Fotografa padrões repetitivos. Lê a luz. E muda de ideias sempre que sentires que o plano original já não funciona.
“Temos de utilizar tudo o que temos. Experimentar tudo o que temos.”
No fim, o que faz a diferença és tu
Mais do que o céu, o sol ou a sorte… o que faz a diferença és tu. A tua visão, a tua persistência, a tua paciência. Uma boa imagem de pôr do sol não acontece por acaso. É construída.
“Uma imagem de um pôr do sol, apenas um céu colorido, é bom… mas é melhor ter uma cena com um pôr do sol nela.”
Se fores fotografar ao fim do dia, leva contigo mais do que a câmara. Leva intenção. Leva atenção. E leva tempo. A recompensa vem. Às vezes não é a que estavas à espera — mas é essa que fica contigo.
Queres aprender a contar histórias com a tua câmara?
Junta-te à formação de fotografia em Faro (Algarve) — workshops com experiências práticas, intensivas e inspiradoras, criadas para te ajudar a ver o mundo com novos olhos e dominar a arte de fotografar com intenção.