“As tuas primeiras 10 000 fotografias são as piores.”
— Henri Cartier-Bresson
Esta frase, frequentemente repetida no mundo da fotografia, condensa uma verdade essencial e intemporal: ninguém começa como mestre. E, no entanto, quantos de nós, ao olhar para as primeiras fotografias tiradas com entusiasmo, não se sentiram frustrados? Falta de nitidez, enquadramentos pobres, luz mal aproveitada, temas desinteressantes — a lista é longa. Mas é precisamente aí que entra a qualidade mais importante de todas: a perseverança.
Neste artigo, convido-te a reflectir sobre o papel fundamental da persistência no desenvolvimento fotográfico, seja como hobby ou profissão. Vamos explorar como o erro, o tempo e a repetição não são obstáculos, mas sim ferramentas de crescimento.
Fotografia: uma arte com tempo incorporado
A fotografia tem uma relação íntima com o tempo — não apenas na forma como congela instantes, mas sobretudo no tempo que exige de quem a pratica. Não há atalhos. Não existe fórmula mágica para dominar a luz, a composição ou a narrativa visual. O que existe é prática, repetição, frustração… e depois, lentamente, a evolução.
A ideia de que se nasce com “olho fotográfico” pode ser inspiradora, mas é enganadora. Até mesmo os grandes nomes da história da fotografia começaram do zero. As suas obras-primas surgiram após milhares de tentativas, de erros estudados, de aprendizagem contínua. É esse o verdadeiro caminho.
Os estilos mudam, o esforço mantém-se
Seja qual for o tipo de fotografia que praticas, a perseverança é um elemento transversal. Mas cada estilo exige essa qualidade de forma distinta:
- Paisagem: o tempo da espera
Fotografar paisagens é um exercício de paciência. Envolve madrugar, caminhar longas distâncias com equipamento pesado, enfrentar o frio ou o calor, e muitas vezes regressar sem “a foto”. Mas o verdadeiro fotógrafo de paisagem não se deixa abater. Sabe que a natureza é imprevisível, e que o momento certo virá — se insistir. - Desporto: o tempo da acção
Na fotografia desportiva, a realidade inverte-se. O tempo não sobra — escapa. Um golo, uma expressão intensa, um salto… são milésimos de segundo. Aqui, a perseverança traduz-se em preparação, atenção e resiliência. Errar uma fotografia decisiva é duro, mas a lição está em continuar, tentar de novo, e afinar o tempo de reacção. - Retrato e moda: o tempo da construção
Nestes géneros, existe mais controlo. Há tempo para direccionar o modelo, ajustar a luz, refinar poses. Mas isso não diminui o desafio. É preciso persistir na busca pela imagem certa — não só tecnicamente, mas também emocionalmente. Criar ligação com a pessoa fotografada exige empatia, escuta e… perseverança.
Perseverar é falhar melhor
O escritor Samuel Beckett dizia:
“Falha. Falha de novo. Falha melhor.”
Esta visão aplica-se perfeitamente à fotografia. Porque cada erro é uma semente. Aprendemos com a imagem que não saiu como esperávamos, com a exposição errada, com a composição que não funciona. E na próxima vez, erramos de forma diferente — mas também erramos melhor. Isso é progresso.
A perseverança não é apenas insistir. É insistir com intenção, com vontade de compreender e de crescer. Não se trata de repetir mecanicamente, mas sim de desenvolver consciência crítica sobre o próprio processo fotográfico.
O prazer do processo
Muitas vezes, ficamos obcecados com o resultado final: a imagem perfeita, a publicação nas redes, a aprovação dos outros. Mas é no processo que vive a essência da fotografia. O acto de observar, de preparar a câmara, de explorar o enquadramento, de ajustar a luz — tudo isso é tão valioso quanto o clique em si.
A perseverança vive aqui: no prazer de fotografar, mesmo quando não há aplausos nem reconhecimento imediato.
A viagem começa com um clique
Lao Tse, filósofo chinês, escreveu:
“Uma viagem de mil milhas começa com um único passo.”
Na fotografia, esse passo é o primeiro clique — e os muitos que se seguem. Cada imagem feita, mesmo que falhada, é um tijolo na construção do teu olhar fotográfico. Por isso, continua. Fotografa. Analisa. Experimenta. Recomeça.
Não desistas só porque ainda não consegues fazer o que imaginas. Persevera, até conseguires fazer o que antes julgavas impossível.
Conclusão: a fotografia como compromisso
Fotografar bem não é uma questão de talento nato. É um compromisso contigo próprio. Um acto contínuo de tentativa e erro, de paciência e curiosidade. A perseverança é o que separa o fotógrafo casual do fotógrafo apaixonado.
Não contes as tuas falhas — honra-as como parte do caminho. Continua a caminhar. E fotografa.
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