Porque fotografamos, afinal?
Antes de falarmos sobre redes sociais, vale a pena fazer uma pausa e colocar uma pergunta simples, mas poderosa: porque é que fotografamos? O que nos leva a sair de casa com uma máquina ao ombro ou um telemóvel na mão, à procura daquela imagem que sentimos que “vale a pena”?
A resposta pode variar: pode ser o desejo de guardar memórias, o prazer de observar o mundo com mais atenção, o desafio técnico, ou até a busca por uma estética pessoal. No entanto, nos últimos anos, uma razão insidiosa tem-se infiltrado nesta lista: o desejo de aprovação nas redes sociais.
O ciclo viciante da validação digital
Fotografar com o objetivo de partilhar nas redes sociais não é, por si só, um problema. Mas quando essa partilha se transforma na única métrica de valor da imagem, algo começa a corroer a base do processo criativo. A ansiedade pelo “like”, a espera pelos primeiros comentários, a repetição de fórmulas que sabemos que funcionam com o algoritmo — tudo isto pode transformar a fotografia num acto condicionado, automatizado, e por vezes, vazio.
As plataformas como o Instagram operam com base em sistemas que recompensam o envolvimento rápido e superficial. O “gosto” tornou-se uma espécie de moeda emocional, libertando dopamina e reforçando comportamentos repetitivos. O resultado? Começamos a produzir imagens não porque elas nos dizem algo, mas porque sabemos que dirão algo aos outros — ou, pior ainda, ao algoritmo.
A armadilha invisível do algoritmo
É importante lembrar que não és tu quem decide o sucesso da tua fotografia nas redes sociais — é o algoritmo. Ele determina quem vê, quando vê e com que frequência. E como está em constante mudança, o que hoje funciona amanhã pode já não surtir qualquer efeito. Assim, muitos acabam por confundir qualidade com visibilidade: “a imagem não teve likes, logo não é boa”. Nada mais enganador.
Ao mesmo tempo, imagens vazias de conteúdo ou repetitivas podem ter enorme sucesso, simplesmente porque encaixam bem nos moldes predefinidos da plataforma. E com isso, vamos perdendo coragem de experimentar, de falhar, de sair da norma. Criamos para agradar, não para descobrir. Seguimos tendências, em vez de voz própria.
Redes Sociais: ferramenta ou distração?
Não se trata de demonizar as redes sociais — quando bem usadas, são poderosas ferramentas de divulgação e conexão. Podemos seguir fotógrafos que admiramos, aprender com o trabalho de outros, fazer parte de comunidades criativas e até encontrar oportunidades profissionais.
O problema está no uso inconsciente, desmedido e emocionalmente dependente dessas plataformas. Consultar obsessivamente as notificações, medir o valor do nosso trabalho pela reacção do público, ficar desmotivado porque uma imagem “não resultou bem” — tudo isto desgasta-nos mais do que pensamos. E o impacto, a longo prazo, pode ser profundo: frustração, bloqueios criativos, ansiedade e até o abandono da fotografia como prática prazerosa.
Fotografar para ti — não para o mundo
A verdadeira libertação começa quando voltamos a fotografar por nós. Quando recuperamos o prazer de observar sem pressa, de experimentar sem medo, de errar e aprender. Quando tiramos uma fotografia e, em vez de pensar “como ficará no feed?”, pensamos “o que me faz sentir esta imagem?”.
Há uma beleza especial nas fotografias que ninguém vê, nas que guardamos só para nós. E há liberdade em perceber que não é preciso partilhar tudo. Algumas imagens existem apenas para nos lembrar de quem somos, do que sentimos, do que vimos — e isso é mais do que suficiente.
O uso consciente: estratégias práticas
Para quem quer continuar a usar as redes sociais sem se perder nelas, aqui ficam algumas sugestões:
- Define horários para estar nas redes. Evita entrar compulsivamente ao longo do dia.
- Desactiva notificações. Recupera o controlo sobre quando e como acedes à aplicação.
- Reflete antes de publicar. Publicas porque queres partilhar algo importante ou porque sentes que deves “manter o ritmo”?
- Cultiva o teu olhar fora do digital. Vai fotografar sem pensar em publicar. Vai imprimir as tuas imagens. Cria um portfólio offline. Faz um livro, nem que seja só para ti.
- Compara-te menos, observa mais. A comparação é inimiga da criação. Em vez de medir o teu trabalho, aprende com o dos outros sem te diminuir.
Encontra o teu ponto de equilíbrio
O maior perigo das redes sociais não está nelas em si, mas na forma como nos relacionamos com elas. Se forem um incentivo para fotografar mais, para conhecer outros criadores, para partilhar com sentido, então estão a cumprir um papel positivo. Mas se começarem a ditar o valor do teu trabalho ou a moldar a tua identidade criativa, é hora de fazer uma pausa e reavaliar.
A fotografia nasceu como linguagem pessoal e visual. É feita de silêncio, de tempo, de presença. As redes sociais, por outro lado, vivem da velocidade, do ruído, da reacção instantânea. O desafio está em encontrar um espaço onde ambas possam coexistir, sem que uma destrua a essência da outra.
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