Vivemos mergulhados num quotidiano que não pára. Entre o trabalho, a escola, a família, as redes sociais, as tarefas domésticas e as pressões da vida moderna, a sensação comum é a de que o tempo escapa por entre os dedos. E quando a fotografia não é a tua profissão, mas sim uma paixão ou hobby, ela tende a ser empurrada para o fim da lista — para aquele “um dia destes” que raramente chega. Mas será mesmo impossível encontrar tempo para fotografar?
Neste artigo, convido-te a reflectir comigo sobre como integrar a fotografia na tua rotina, não como mais uma obrigação, mas como um momento de prazer criativo, um refúgio dentro da correria.
O tempo não se encontra — cria-se
A primeira grande mudança de mentalidade está aqui: o tempo não aparece do nada, precisa de ser criado com intenção. Não se trata de esperar por um fim-de-semana livre, por férias, ou por uma saída especial. A fotografia pode — e deve — entrar na tua rotina como um gesto diário, como tomar café ou ler as notícias.
Tal como agendamos reuniões, idas ao ginásio ou encontros com amigos, podemos reservar blocos de tempo para fotografar. Mesmo que sejam apenas 15 ou 30 minutos, podem ser mais do que suficientes para capturar algo interessante, explorar uma ideia ou treinar o olhar.
Fotografia no quotidiano: mais perto do que parece
Um erro comum é pensar que só se fotografa em locais exóticos, durante viagens, ou em ocasiões especiais. Mas a verdade é que a beleza da fotografia reside precisamente na capacidade de tornar o banal em algo significativo. A tua rua, a luz que entra pela janela da cozinha, o reflexo num espelho, a sombra projectada por um candeeiro — tudo pode ser matéria-prima para criar imagens.
Se tens filhos, por exemplo, podes aproveitar momentos com eles para registar expressões genuínas, gestos espontâneos, cenas do dia-a-dia. Se vais ao supermercado, porque não levas a câmara (ou o smartphone) e registres detalhes urbanos, cenas de rua ou jogos de luz inesperados?
A fotografia está ao alcance, não precisa de grandes planos. Só de olhos atentos e vontade de ver.
A câmara no bolso: o poder do smartphone
A desculpa clássica de “não trouxe a câmara” perdeu força nos dias de hoje. Quase todos temos uma câmara razoavelmente boa no bolso: o smartphone. Embora não substitua uma câmara fotográfica profissional em muitas situações, o telemóvel é um excelente aliado para quem quer fotografar com frequência. Está sempre connosco, é discreto e permite resultados surpreendentes com um pouco de criatividade.
Desafia-te, por exemplo, a fazer uma série fotográfica só com o telemóvel, usando um tema por semana: luz e sombra, texturas, silhuetas, reflexos, minimalismo… Com a edição simples directamente no telemóvel e partilha fácil em redes sociais, estás a praticar, a ver, a criar — e isso é evoluir.
Planear vs. improvisar
Há dois caminhos complementares para encontrar tempo para fotografar: planear sessões específicas e aproveitar os momentos espontâneos.
- Planear sessões: marca um dia por semana para sair com a câmara. Pode ser um passeio ao final da tarde, uma manhã de fim-de-semana, ou mesmo uma pausa ao almoço. Escolhe um local — ou simplesmente vagueia — e fotografa com intenção.
- Improvisar oportunidades: anda sempre com a câmara (ou smartphone), e mantém o “modo fotográfico” ligado. Estás à espera de alguém? Fotografa os arredores. Vais caminhar até casa? Repara nos padrões da calçada, na arquitectura, nas árvores, no céu. A fotografia nasce da atenção.
Criatividade nos intervalos
Nem sempre temos tempo para sair ou planear. Mas isso não significa que não possamos fotografar. Usa os pequenos intervalos do dia — mesmo que estejas em casa. Fotografa os teus objectos, cenas da tua rotina, faz experiências com luz artificial ou natural, explora ângulos diferentes.
Se estás sem inspiração, impõe-te um desafio: uma foto por dia, um tema por semana, uma cor para explorar. Há muitos projectos fotográficos simples que podem encaixar-se no teu dia sem esforço.
A fotografia como pausa e meditação
Mais do que um passatempo, a fotografia pode ser um antídoto contra o ritmo acelerado da vida. Quando fotografamos com atenção plena, o tempo parece abrandar. Começamos a reparar em detalhes invisíveis no dia-a-dia: a luz que muda, o gesto de um estranho, a composição de um canto da casa.
É como uma meditação visual — e essa pausa criativa pode ser precisamente o que precisamos para recentrar e aliviar o stress.
Conclusão: não adies, começa
Fotografar não exige tempo livre, exige disponibilidade interior e intenção. Começa com o que tens, onde estás, com o que vês. Planeia quando puderes, improvisa quando quiseres, mas não deixes de fotografar por falta de tempo.
Lembra-te: não há más fotografias quando o objectivo é aprender, explorar, sentir. Cada clique é um passo no caminho da expressão criativa.
Mantém a tua câmara (ou o teu olhar) pronto. O tempo para fotografar não se encontra — cria-se.
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