Quando trazemos a câmara aos olhos partimos, quase sempre, do mesmo nível — o da nossa visão natural. O resultado é uma série de fotografias previsíveis, repetitivas, semelhantes a milhares de outras que já vimos. A boa notícia? Bastam alguns passos à frente, um joelho no chão ou um banco improvisado para revelar um mundo radicalmente diferente.
O poder do ponto de vista
Muito abaixo do olhar
Muito acima da cabeça
Pequenos desvios laterais
Mover-se meio metro para um lado pode alinhar dois objectos e criar justaposições invisíveis a olho nu: a estátua que parece pousar sobre o telhado, o ciclista “apoiado” num candeeiro.
Horizonte: alto ou baixo?
- Horizonte baixo — enfatiza o céu, sugere amplitude, liberdade ou isolamento.
- Horizonte alto — domina o terreno, confere peso ao primeiro plano, faz sentir a textura da terra ou o padrão urbano.
Antes de compor, decide o que queres contar: a pequenez de uma casa no meio do monte ou a imponência dessa mesma casa sobre o vale fértil?
Perspectiva linear e ponto de fuga
Estradas, carris, arcadas: linhas paralelas que parecem tocar-se ao longe. Este “túnel” dirige o olhar e acrescenta narrativa — está o comboio a chegar ou a partir? Se as linhas partem da esquerda para a direita, colaboram com o sentido natural de leitura e tornam a viagem mais fluida.sma casa sobre o vale fértil?
Convergência de verticais
Fotografar edifícios ao nível do chão inclina as paredes para dentro. Corrigir? Usa uma objectiva de desvio (shift) — ou o módulo de transformação no software de edição. Realçar? Abraça a distorção com uma grande-angular e inclina ainda mais a câmara: a arquitectura transforma-se em escultura abstracta.
Lentes e percepção do espaço
Tipo de objectiva | Efeito na perspectiva | Quando usar |
---|---|---|
Telefoto (≥100 mm) | Achata: fundo e motivo parecem colados | Para “comprimir” montanhas, realçar camadas de neblina, criar intimidade em retrato sem intrusão |
Standard (≈50 mm) | Proporção semelhante ao olho humano | Reportagem, rua, cenas do quotidiano |
Grande-angular (≤35 mm) | Expande: primeiro plano enorme, fundo recua | Paisagem, interiores apertados, dramatizar nuvens ou estradas |
Um zoom não é mais do que várias distâncias focais num só tubo. Dominar o efeito óptico de cada posição é mais importante do que possuir todas as objectivas.
Simplificar continua a ser lei
Alterar ponto de vista ou objectiva não dispensa a depuração: remove elementos supérfluos, limpa os cantos do enquadramento, controla o fundo. Uma composição poderosa resulta da soma de escolha de ângulo e eliminação de ruído visual.
Resumo
- Baixo vs. alto – níveis extremos mudam escala e emoção.
- Horizonte – posição determina quem domina: céu ou solo.
- Linhas fuga – conduzem o olhar e contam histórias de ida ou volta.
- Verticais convergentes – corrigir para rigor, exagerar para drama.
- Telefoto achata, grande-angular expande – usa cada efeito a teu favor.
- Simplificar – cortar distracções mantém a mensagem clara.
Conclusão
A fotografia é a arte de seleccionar. Ao contrário do pintor, não podemos apagar montanhas nem inventar nuvens — mas podemos escolher onde pousar os pés, que lente engatar e quando premir o obturador. Cada decisão altera a leitura emocional da imagem. Experimenta: deita-te na calçada, sobe um degrau, aproxima-te com uma grande-angular ou comprime a cena com um tele. Descobrirás que o mundo, visto da mesma rua, oferece infinitas fotografias diferentes.
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